O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange. Contos Reunidos, p. 98

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Prefácio do livro Inventor de Poesia

Na minha concepção, um convite para prefaciar um livro como este se estende a pessoas com bagagem literária, como um crítico, por exemplo, ou um poeta renomado, classes nas quais não estou encaixada. Isso muito me envaidece, pois entendo que se não tenho esses títulos e sou tratada como se os tivesse, realmente tenho lugar de importância na vida daquela que me convidou para desempenhar essa honrosa tarefa.
O livro Inventor de Poesia que ora vos apresento reúne poemas com multiplicidade de temas, para leitores de preferências diversas em qualquer idade. A autora, que não se declara poeta, mas se diz escritora de versos, é dona de um estilo bem próprio: criativo, divertido e inteligente; fortemente caracterizado pela intertextualidade e metalinguagem. Surpreende com o talento que tem vindo da alma para criar e com a arte que possui para lapidar, aparar e montar seus versos.
Escrever é seu ofício. Um ofício que desempenha com paixão e seriedade. Sobre isso diz no poema “Vida e Obra”: Trabalho esculpindo poesias, /Aparando as arestas, /Lapidando aqui e ali... Em “Versos de Aprendiz”, fala também sobre esse tema: Escrever é meu refúgio./ Mergulho em meu ofício,/Modelo palavras. / Monto e desmonto versos.
Aos amigos dedica sua “Herança em Palavras”: Aos amigos deixo toda a minha gratidão, /Meus versos, todos os meus escritos, /Enfim, tudo que criei, /Que saiu do mais profundo de mim. No poema Contentamento,” além da herança em versos que repartirá com muitos, menciona novamente o prazer de escrever: “Não quero sepultar o meu talento, / Se com ele posso contentar outras pessoas. / Aproveito os dias longos, / Para compor a herança que / Repartirei com muitos. / Escrever é meu ofício/ E meu prazer. E, ainda nesse poema, 
numa alusão aos versos bíblicos, que recomendam que quem está alegre cante, quem está aflito, ore, ela dizSe estou alegre, canto. /Se estou triste, faço versos.
Num mergulho à literatura universal, a autora conversa com o escritor Allan Poe nos poemas “Pra Sempre” e “Nunca Mais”, e  com  Elizabeth Bishop, respondendo ao seu poema “One Art”, com o poema “A Arte de Perder”.
Brinca com o trágico em “O Riso e o Pranto”, faz retratos escritos de si mesma nos poemas “Retrato Escrito” e “Metade de Mim”. De igual modo retrata com realismo outros quadros, como o de uma criança sozinha no leito de um hospital, vítima da “Guerra dos Homens”. Com isso, leva o leitor a visualizar cenas que ela pinta com palavras, conseguindo deslocar o leitor para dentro de sua obra.
Impressiona a mim e a outros o fato da autora desde cedo trazer na bagagem a habilidade de se expressar e montar seus versos belos e singelos como denunciam as poesias “Um chão Maior”, “Noite” e “Restos”, escritas e publicadas na adolescência.  Há ainda  escritos  irreverentes como “Anúncio” e “Procuro Alguém”, feitos como que por brincadeira, apenas para divertir o leitor.
Enfim, são poesias para todos os momentos, que provocam no leitor as mais variadas reações, desde simples descontração a profundas emoções e deleite espiritual. Por todas essas razões, recomendo o livro “Inventor de Poesia: Versos Líricos”, certa de que cada leitor será envolvido pelas poesias multifacetadas deste livro, identificando-se mais com essa ou aquela, dependendo do estilo e preferência de cada um.

 Maressa Moraes 

Fonte: Margarete Solange. 
Inventor de Poesia: Versos Líricos, p18.  
Queima-Bucha, 2010.