O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange. Contos Reunidos, p. 98

Imortal

Nada vai fazê-lo voltar!
E essa saudade vai ficar
Aqui dentro me esmagando
Num aperto indizível.
E eu nem sei se quero
Que ela se vá,
Porque me sinto tão só.
Não quero esquecê-lo
E a lembrança dele me segue
E persegue por toda parte.
Em cada canto da casa
No silêncio, no soprar do vento,
Em cada recanto de meus quintais e jardim.
Em nosso banquinho no meio do nada
Sentávamos todas as noites...
Amávamos estar lá
Em companhia um do outro
Debaixo do céu.
De repente, a velhice o abraçou...
Prematuramente.
Ele não queria ir
Porque me amava intensamente.
Eu lia isso nos seus olhos
Redondos, contentes.
Olhinhos que eu tanto amei.
Ele não queria partir
E a lembrança disso me dilacera o peito.
Quem dera ele estivesse aqui
Nesse momento e pra sempre...
Me olhando sem nada dizer.
Assim ficou por dias e noites
Escondendo de mim que sofria.
Lentamente partia, sem querer,
Sem me deixar perceber.
Não foram suficientes todas as vezes
Que disse “Te amo”
Deveria tê-lo dito mais
Tê-lo apertado mais em meus braços
E não tê-lo deixado partir.
Se ele pudesse voltar,
Sei que voltaria
Porque com bravura canina
Lutou até o fim
Para ficar ao meu lado.
Meu amor era intenso como o seu,
Ele me ensinou a amar assim.
Não dependeu de nós.
Me sinto tão só...
Ele agora não sofre mais,
E minhas lágrimas viraram chuva,
Águas de uma poesia longa e triste...
Talvez no meu ingênuo bem querer,
Acreditei que ele fosse imortal.




Margarete Solange,
Inventor de Poesia, 
Oito Editora,
2ª edição, 
2014, p. 46