O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange. Contos Reunidos, p. 98

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Prefácio do livro Inventor de Poesia Infantil

O universo infantil, por si só, já é poético, já que a poesia requer de nós uma alma mais leve e um coração mais puro, para que possamos captar a beleza que há na vida e em cada detalhe através do qual ela se manifesta. E não há terreno mais propício para a poesia do que a mente, a alma e o coração de uma criança. Contudo, ainda há alguns obstáculos para que a poesia se popularize entre elas. Entre tais empecilhos, o mito de que os pequeninos não gostam dos versos.
Acredito que quando o que lemos é atraente e apresenta uma linguagem que favorece a compreensão, a leitura torna-se inevitavelmente prazerosa, o que nos faz ler para dormir e até acordar para ler. Afinal, leitura boa é aquela que se realiza por e com prazer. Por esse motivo, o livro Inventor de Poesia Infantil constitui-se uma viagem mágica e poética pelo mundo infantil. Cheio de rimas e versos que nos emocionam e nos fazem sorrir, aborda temas leves e acontecimentos do cotidiano, como um dia de chuva. Nele, a autora instiga as crianças a contar carneirinhos ou a responder perguntas típicas das curiosas mentes infantis: afinal, como se chama o filhote do cágado?
Este com certeza é um dos pontos fortes do livro: o diálogo que cada poesia mantém com as crianças, levando-as a interagir com o texto, a entrar porta adentro na poesia. Essa interação nos envolve e nos motiva a ler sem parar. Faz com que o leitor desempenhe um papel ativo diante da leitura e queira devorar cada verso e em cada poesia encontrar um pouco da criança que em nós eles vêm despertar, independente de sermos (ou não!) tamanho P.
Além dessa conversa com o leitor, outro ponto-chave é a intertextualidade que o livro mantém com contos e histórias infantis e textos bíblicos, o que ajuda a criança a desenvolver a capacidade de associar o novo ao que já foi escrito, percebendo as semelhanças e diferenças que as poesias apresentam em relação aos textos originais, tornando o livro uma poderosa ferramenta para se abordar a intertextualidade com as crianças. A forma fácil e bem-humorada como se apresenta, serve de motivação para que as crianças escrevam suas próprias poesias sobre princesas adormecidas – ou, quem sabe, acordadas – e patinhos não necessariamente feios e desengonçados.
A autora aborda de forma poética temas complexos, porém muito relevantes, como o preconceito, o direito à liberdade, os anseios das crianças em relação ao próprio futuro, as mudanças decorrentes da transição da infância para a adolescência e os padrões de beleza estabelecidos pela sociedade atual: será que o burrinho é tão burro assim? O que vou ser quando crescer? É certo privar o passarinho de voar? E quem disse que a princesa tem que ser branca como a neve? O modo lúdico como essas temáticas são apresentadas facilita sua abordagem com as crianças, proporcionando o ambiente ideal para o debate. Cria-se, de forma lírica, um espaço para que a criança aprenda a pensar e a questionar sobre aquilo que anteriormente apenas lhe era apresentado, colaborando para o surgimento e desenvolvimento de sua criticidade, tornando-os cidadãos atuantes, capazes não só de refletir, mas também de transformar o mundo em que vivem, e fazê-lo de modo criativo e poético.
Um outro aspecto bastante positivo é a interação que as poesias tecem com a natureza. Ao longo de toda obra, os animais são presença constante – afinal, quem nunca quis ter um bichinho de estimação?! Figurinhas simpáticas, seja por seu quá-quá-quá desafinado, seus maus hábitos de higiene ou suas ideias mirabolantes – que o diga o elefante!
É por trazer de maneira meiga e singela diversos temas de interesse das crianças que o livro como um todo é um convite para que tornemos poesia uma cena corriqueira da natureza: uma flor que desabrocha, um sapinho entre as folhagens, um exército de formiguinhas ou um cachorro preso no quintal. Ou para que, assim como a autora, homenageemos pessoas queridas.

Então, vinde, criancinhas,
(de todos os tamanhos)
E façam poesias.
Despertem seus corações para esse mundo
Que emociona, alegra e contagia.
Tornem-se vocês também inventores de poesia
E não esqueçam de dizer
Qual bichinho é o companheiro ideal,
Pois este livro foi feito pensando em você
E a sua opinião é muito especial.


Midiã Borges Gomes
Professora de Língua Portuguesa e Redação
 no Ensino Fundamental II. Graduada em Letras
 e Especialista em Leitura e Produção Textual pela UERN.


Fonte: Margarete Solange.
Inventor de Poesia Infantil:
Fantoches e Poesia.
Queima Bucha, 2010.
Ilustrações de Jorge Davi