O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange. Contos Reunidos, p. 98

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Vida e Obra

                     poesia de Margarete Solange

Amanhece...
A cidade cresce
E eu dentro dela me levanto.
Trabalho esculpindo poesias,
Aparando as arestas,
Lapidando aqui e ali...
Dizem que sou melhor criando em prosa,
Também acho que sim...

Entardece.
O sol declina e anuncia
Que o tempo avança,
Não espera por quem ficou para trás.
Pessoas voltam do trabalho, têm pressa,
Não se importam com a pintura do céu.

Sigo pelas ruas,
Mentalmente faço versos,
Crio personagens...
Para quê?

Para onde caminha a cidade?
Para onde correm os dias,
Todos os sóis,
Todos nós...

Um dia o que dirão sobre a cidade,
Sobre o sol...
Sobre estes versos e aquela que os criou?

Para onde vai a imagem
Que agora contemplo no espelho?
Emudecerá e retornará ao pó?
Sim... A menos que se torne imortal!



Fotografia de Margleice Pimenta

Fonte: Margarete Solange.
Inventor de Poesia: 
 Queima-bucha, 2010
 Poesia "Vida e Obra",  p 26.


Fazendo Amigos

                                   Poesia de Margarete Solange
Não entre na briga com uma formiga,
Nem na confusão com o leão,
Mas se com o coelho quiser brincar,
Bom proveito, é só começar!

Corre daqui, corre de lá,
Foge ligeiro, tenta alcançar.
Corre daqui, corre de lá,
Foge ligeiro, tenta alcançar.

Não faça carinho no porco espinho
Nem vá reclamar do cheiro do gambá,
Mas se quer um amigo fiel e limpinho
Adote um cão bem bonitinho.

Late daqui, late de lá,
Põe a coleira, vai passear.
Late daqui, late de lá,
Põe a coleira, vai passear.

Não seja raivoso como o jacaré,
Nem traiçoeiro como o tubarão,
Mas se o gato mansinho quiser imitar
Muitos amigos irá conquistar.

Brinca daqui, brinca de lá
Muitos amigos irá conquistar.
Brinca daqui, brinca de lá
Muitos amigos irá conquistar.

Fonte: Margarete Solange.
Inventor de Poesia Infantil: 
Fantoches e Poesia. p. 19 
Queima Bucha, 2010.
Ilustrações de Jorge Davi.
***Poesia musicada pela autora
para apresentação de trabalhos com fantoches.

Trecho de Obras


Os escritores são assim, usam suas palavras como se fossem varinhas mágicas que criam pessoas e mundos imaginários. Criam histórias e nos fazem acreditar nelas, e até vivê-las, como se entrássemos literalmente nas páginas de seu livro. 


Margarete Solange 
Do livro O Silêncio das Lembranças

Queima-Bucha, 2011,p.199..

Às Mulheres

                                                     poesia de Margarete Solange


Quem pode entender as mulheres?
Elas são tão complicadas,
Carentes, dengosas,
Mui amadas, maravilhosas.
Difíceis de se contentar com tão pouco.
Reclamam, principalmente com quem amam,
Mudam de estilo como o camaleão,
Mesmo na simplicidade são vaidosas,
Até as feias são charmosas,
Gostosas de abraçar,
Irresistíveis, ternas, maternas, talentosas,
Frágeis, ágeis, perigosas...
Brilhantes como o sol, bravias como o mar,
Encantam... Embora não sejam tão apreciáveis
Em todas as suas fases
Minguantes, ficam implicantes,
Depressivas, prontas para atacar,
Ou chorar por qualquer razão.
Rosas perfumadas com beleza e espinhos,
Braços para abraçar, palavras para ensinar,
Lições para guardar no fundo d’alma.
Por causa delas o mundo se comove,
E nas batalhas vencem sem usar armas mortais.
As mulheres são: de dia como sol,
De noite como lua, como o céu cheio de estrelas.
Quem pode resistir aos seus encantos?
Quem pode existir sem elas?





Fonte:
Margarete Solange.
Inventor de Poesia 
 Queima-bucha,
2010,  p.23

Uma Máxima

O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange


do livro Ninguém é Feliz Sem Problemas.
Fundação Vingt-un Rosado, 2009

Saudade Ferina

 Margarete Solange
Com ele aprendi tanta coisa. Ele tinha por mim um amor tão sincero, adorava minha companhia. Todas as noites sentávamos em nosso banquinho debaixo do vasto céu para conversar. Ele me ouvia e compreendia, era sensível aos meus sentimentos. Preocupava-se ao ver-me chorar. Eu o amava tão intensamente que por causa dele mudei alguns de meus costumes e fiz coisas que antes nem imaginava fazer. Aprendi com ele uma nova maneira de ser e de amar. Foi tão surpreendente e doloroso vê-lo inerte, com olhinhos parados, fitando-me sem me ver. Olhinhos que eu amava tanto. Eu sabia que o futuro iria tirá-lo de mim, por isso passava pelos dias lentamente adiando o porvir. Tomava posse do presente ao seu lado, apertando-o em meus braços sabendo que estava vivendo o passado. Por duas vezes escapou da morte, que veio ao seu encontro ameaçadora e possessiva. Então acreditei que nessa terceira luta, ele novamente seria o vencedor. Todavia, a velhice chegou antes da hora e lhe trouxe um nódulo na tireóide e uma anemia profunda. Ele lutou tão bravamente porque queria permanecer ao meu lado, eu lia isso em seus olhos. Agora, todas as noites uma saudade ferina grita o seu nome e ele não vem porque não está em lugar algum, mas as lembranças estão por toda parte. E eu nem quero que elas me deixem porque um grande amor a gente não quer esquecer. É tão difícil não tê-lo, porque ele ocupava um espaço muito grande em meu coração e agora esse espaço está vazio. Com lágrimas nos olhos e uma profunda dor na alma escrevo e dedico a ele, meu grande amigo REX – Rei em latim –, estas minhas palavras de lamento. Ele não era tão somente um vira-latinha... Era inteligente, alegre, divertido, apaixonado... Era o Rei REX... e eu o amava!


Inventor de Poesia

poesia de Margarete Solange

Os poetas não são simples mortais,
São diferentes, sensíveis demais.
Morrem de amores, ressurgem em poesias.
Um poeta não mente nem exagera jamais.
Ele realmente sente o que sente!
Secreto e inconstante como o mar,
Finge que é transparente
E se expõe em versos e prosas.
Diz o que os outros sentem
Como se sentisse também,
E diz tão bem que convence.
O poeta diz e se contradiz,
Mas não mente...
Desmancha-se em versos tristes,
Porém não é infeliz nem melancólico sempre...
É que para ele uma gota de dissabor
É motivo para rios de poesias sentidas,
Que agradam a uns e desagradam a outros.
O poeta é como vinho...
O poeta é um inventor como outro qualquer.



Fonte 1: Margarete Solange. 
Um Chão Maior, p. 09
Santos, 2001 
Fonte 2: Margarete Solange. 
Inventor de Poesia. p.13.  
Queima-Bucha, 2010.
Fonte 3:
Inventor de Poesia,
2ª ed Oito Editora,
 2014, p. 17

Contentamento

                              poesia de Margarete Solange

Não quero sepultar o meu talento,
Se com ele posso contentar
Outras pessoas.
Aproveito os dias longos,
Para compor a herança que
Repartirei com muitos.
Escrever é meu ofício
E meu prazer.
Se estou alegre, canto.
Se estou triste, faço versos.
Dia após dia busco contentamento
No canto e na poesia.
Busco a perfeição, mas
Sei que ela habita nas alturas.
Não me assusta o infinito.
Ergo os braços...
Sonho alcançar o fascínio
Das estrelas. 




Fonte: 
Margarete Solange.
Inventor de Poesia: 
 Poesia "Contentamento",  p 84.
 Queima-bucha, 2010