O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange. Contos Reunidos, p. 98

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Prefácio do livro O silêncio das lembranças

Prefaciar uma obra literária não é tarefa das mais fáceis, uma vez que se trata de uma grande responsabilidade para quem o faz. Principalmente quando a obra é de uma incansável e inquieta escritora como a professora Margarete Solange Moraes. Incansável e inquieta porque ela não para, vive a ler, a escrever, a expor suas experiências de leitura de forma espontânea e criativa.
No romance “O Silêncio das Lembranças”, com engenho e arte, Margarete retira personagens de suas leituras e transforma-as, mudando-lhes o caráter e a personalidade, tornando-as, ora mais brandas, ora mais severas, como é o caso de Stony, aparentemente um homem rude, apesar de ter curso superior, fechado em seu mundo, não aceita conselhos de quem se aproxima dele, nem deseja manter contatos com ninguém. Por outro lado, é exatamente esse seu jeito esquisito de ser e essa sua preferência pela solidão que motiva a sensível Marina a desejar conquistar sua amizade e confiança a todo custo.
Marina deixa transparecer suas emoções, Stony por sua vez, não costuma externar seus sentimentos, no entanto, em uma das passagens na qual se encontram e desentendem-se, expressa seu pensamento através de uma máxima, bem conhecida e citada por muitos:
– “[...] não acredito que existe amizade desinteressada entre um homem e uma mulher. Creio que entre um homem e uma mulher existem apenas dois tipos de sentimentos: o amor ou o ódio.”
O intrigante nesta obra é que a autora cria uma expectativa em torno dos encontros de Stony e Marina. Apesar da pouca idade, ela tenta mudar o comportamento do pintor solitário que não poucas vezes se esquiva da garota com frases bruscas, evasivas.
Dessa forma, a escritora cria um clima de tensão emocional tão elevado, quando acontecem os encontros e desencontros entre os dois, que, certamente, deixará o leitor ansioso por saber como terminará a relação entre eles, assim como aconteceu comigo.
Além disso, o romance está repleto de reflexões da personagem Marina e de sua irmã, a narradora Marisca, que aproveita em suas narrativas episódios da literatura, bem como ensinamentos bíblicos usados por pessoas de sua família. Ao longo da narrativa tais reflexões levarão os leitores a meditarem acerca das coisas da vida, do mundo e da fé.
Penetrar nas páginas deste exemplar fará os leitores fazerem uma viagem ao enigma criado pela autora mais uma vez, já que ela não é principiante na arte da palavra escrita. Já tive a oportunidade de ler outros títulos e este me deixou curioso pelo desfecho.
  
      Francisco Batista Pereira

Formado em Letras, professor de 
Língua Portuguesa e Literatura.



Fonte: Margarete Solange.
O silêncio das lembranças
Queima Bucha, 2011.
Ilustrações de Jorge Davi