O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange. Contos Reunidos, p. 98

Quintais


                               poesia de Margarete Solange
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Se o tempo quebrasse e parasse agora,
Enquanto não me oprime
O compromisso chato que me rouba o dia,
Escondida em meus quintais, sem hora,
Seria alguém que não é ninguém.
Pés descalços...
Abrigada por tão altos muros,
Vejo a lua clara subir no céu
E o farfalhar do vento canta
Aos meus ouvidos música tão boa.
Quieta, penso que não penso em nada,
Só meus olhos dão sinal de vida.
Por um momento tudo é poesia...
Eu tão sem vaidade, tão sem ambição,
Sem amor, nem ódio,
Sem pecado algum...

Se esse tempo que parece meigo
Ficasse assim por noites sem dias
E a lua pura encantasse o céu...
Que mulher seria mais feliz que eu?
Protegida do mundo lá fora,
Sentada no chão...
Rodeada por dois cães que brincam,
Me abraçam, vão e voltam...
Para eles basta que eu esteja aqui.
Se quiser falo qualquer coisa à-toa:
Um grito, um gesto, uma gargalhada...
Tudo é tão perfeito,
Só por um momento...
Eu tão sem vaidade, tão sem ambição,
Sem amor, nem ódio,
Sem pecado algum...
...

Fonte: Margarete Solange. 
Inventor de Poesia: 
Versos Líricos.
Poesia Quintais, p. 19 
Queima-Bucha, 2010.