Crônica de Margarete Solange
Sempre fui apaixonada por leitura. Nem lembro
como essa paixão começou. Quando aprendi a ler, eu ficava bem perto do meu pai
enquanto ele dirigia para que me ouvisse ler os letreiros que surgiam em nosso
trajeto. Ele ficava encantado porque eu sabia ler. E porque ele ficava
encantado, eu lia tudo o que via pela frente para receber elogios.
Como éramos muitos
filhos (nove), estudamos em escolas públicas, e meu pai não podia comprar
livros. Na vizinhança, havia uma menina, colega de brincadeiras, que tinha em
sua sala uma estante cheia de livros. Eram os clássicos da literatura infantil,
uma riqueza! Eu me sentava em frente à estante e ficava olhando os livros para
sondar o ambiente e saber se era permitido pegá-los ou não. Estudava as expressões
dos rostos das irmãs mais velhas e da mãe da menina. Se não fizessem cara
sisuda, era sinal de que eu poderia pegar os livrinhos para ler. Poder lê-los
trazia-me uma alegria infinda!
Eu era tímida ou
acanhada demais para ter coragem de pedir permissão aos adultos para fazer
qualquer coisa que fosse. Esse medo de me expor e enfrentar pessoas trago até
hoje. Procedi dessa forma por muitas e muitas manhãs, mas nenhum adulto daquela
família colocou obstáculos para que eu lesse os belos e bem ilustrados livrinhos.
E assim, li muitos livros, até mesmo “A Dama das Camélias”, de Alexandre Dumas,
embora ainda não tivesse idade para entender bem o enredo dessa história. Para
não desmerecer a confiança que tinha conquistado, eu segurava os livros com
muito zelo, enquanto os lia ou folheava. Esses momentos de leitura eram ricos
para mim e, por isso, ainda guardo na memória todo o ambiente que me cercava enquanto
eu lia ou relia meu grande tesouro, sentadinha no chão da sala em frente à
estante de meus cordiais vizinhos.
Lembro-me também de
que iniciei a leitura lúdica nos quadrinhos infantis. Eu ainda não compreendia
as palavras, mas entendia as histórias, lendo as gravuras. Vez por outra, meus
irmãos apareciam com um gibizinho trocado ou emprestado de alguém. Às vezes,
recusavam-se a me emprestar; então eu tinha que ler escondidinha, correndo
grandes riscos de ser flagrada. Isso era uma aventura muito grande porque eu
era medrosa e não gostava me meter em intrigas. Quando
o flagra acontecia, a confusão era tremenda. Guardo com carinho as lembranças
de minhas primeiras leituras. Muitos livros infantis não tive o privilégio de
ler durante a infância, mas jamais deixei de ler livros infantis porque deixei
de ser criança. “O Pequeno Príncipe”, li na adolescência, um amigo me emprestou
e “Pollyana”, na fase adulta, visto que duas amigas insistiram para que eu
lesse. Adorei! Entre tantos livros lidos na infância, cito dois, como sendo
inesquecíveis: “O Patinho Feio”, de Hans Andersen, e “A Ilha perdida”, de Maria
José Dupré.