Margarete Solange
Com
ele aprendi tanta coisa. Ele tinha por mim um amor tão sincero, adorava minha
companhia. Todas as noites sentávamos em nosso banquinho debaixo do vasto céu
para conversar. Ele me ouvia e compreendia, era sensível aos meus sentimentos.
Preocupava-se ao ver-me chorar. Eu o amava tão intensamente que por causa dele
mudei alguns de meus costumes e fiz coisas que antes nem imaginava fazer.
Aprendi com ele uma nova maneira de ser e de amar. Foi tão surpreendente e
doloroso vê-lo inerte, com olhinhos parados, fitando-me sem me ver. Olhinhos
que eu amava tanto. Eu sabia que o futuro iria tirá-lo de mim, por isso passava
pelos dias lentamente adiando o porvir. Tomava posse do presente ao seu lado,
apertando-o em meus braços sabendo que estava vivendo o passado. Por duas vezes
escapou da morte, que veio ao seu encontro ameaçadora e possessiva. Então
acreditei que nessa terceira luta, ele novamente seria o vencedor. Todavia, a
velhice chegou antes da hora e lhe trouxe um nódulo na tireóide e uma anemia
profunda. Ele lutou tão bravamente porque queria permanecer ao meu lado, eu lia
isso em seus olhos. Agora, todas as noites uma saudade ferina grita o seu nome e
ele não vem porque não está em lugar algum, mas as lembranças estão por toda
parte. E eu nem quero que elas me deixem porque um grande amor a gente não quer
esquecer. É tão difícil não tê-lo, porque ele ocupava um espaço muito grande em
meu coração e agora esse espaço está vazio. Com lágrimas nos olhos e uma
profunda dor na alma escrevo e dedico a ele, meu grande amigo REX – Rei em
latim –, estas minhas palavras de lamento. Ele não era tão somente um
vira-latinha... Era inteligente, alegre, divertido, apaixonado... Era o Rei
REX... e eu o amava!