O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange. Contos Reunidos, p. 98

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Uma Máxima

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O homem pode não ser rico, mas se ele tiver na bagagem a leitura será mais que isso: será sábio. A sabedoria, sem dúvida, é grandiosa, é tudo na vida, não na morte. Na morte, todos os homens são igualmente leigos.

Margarete Solange 



do livro Ninguém é Feliz Sem Problemas.
Fundação Vingt-un Rosado, 2009

Trecho de Obras


Hoje entendo que não basta ter inteligência e ser admirado, o que traz contentamento são as realizações e essas realizações precisam nos acompanhar, dia a dia, ao longo de nossas vidas e não podem estancar nem mesmo quando estivermos velhinhos.


Margarete Solange 
Do livro O Silêncio das Lembranças

Queima-Bucha, 2011,p.90.

Guarda-Chuva

                                                                poesia de Margarete Solange
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Chove muito. Chove e para.
Chove e pinga.
PingaPinga.
Pelas ruas segue
Um guarda-chuva enorme
e
Um menino alegre
Que se abriga embaixo
Com um saquinho de compras
Debaixo do braço.
Pés descalços
Pisam a calçada fria
e
 A água desce
Grossa e amarelada,
Numa enxurrada parecendo um rio.
Cessa a chuva.
PingaPinga.
Talvez modesta seja a morada
Do menino magro
De pernas tão finas
e
A riqueza seja
O seu guarda-chuva
e
A roupa nova
Que ficou guardada...



Fonte: Margarete Solange.
Inventor de Poesia Infantil: 
Fantoches e Poesia. 
Queima Bucha, 2010.

G ou Z?

poesia de Margarete Solange
Vejam a zebra no campo
Vestida de preto e branco,
Simples e bela.
Mais alta que ela
Tem a girafa
Que cheia de graça
Desfila tranquila.
Vejam crianças!
Beleza e elegância,
Quem vocês acham
Que se veste melhor?

Digam “G” pra girafa
E “Z” pra zebra.

Vamos, digam bem alto:
G ou Z, Z ou G?
Não dá pra entender
Sons tão parecidos,
Crianças queridas,
Me ajudem a escolher...

Quem se veste melhor,
G ou Z, Z ou G?

Fonte: Margarete Solange.
Inventor de Poesia Infantil: 
Fantoches e Poesia. 
Queima Bucha, 2010.

Tartaruga

Poesia de Margarete Solange 
Sempre calma,
Não se vexa,
Não tem pressa de chegar.
Não tem dívidas,
Não tem casa e
Nem filhos pra cuidar.
Se tem rugas, não divulga...
A tartaruga
Vai ao longe, devagar.
Ela é prima do cágado,
– Que nome engraçado!
Se algum desavisado
Se confunde,
Ele fica mal falado,
Quem já viu um nome assim?
Melhor ser uma tartaruga,
Gigante, marinha.
Ela nada até a praia,
Põe seus ovos e vai...
Não tem pressa,
Não estressa,
Não interessa se tem rugas!
A ilustre tartaruga.
Fonte: Margarete Solange.
Inventor de Poesia Infantil: 
Fantoches e Poesia. 
Queima Bucha, 2010.
Ilustrações de Jorge Davi

Aos Pés do Mestre

                                    poesia de Margarete Solange 

Eu queria estar junto ao Mar da Galileia
Quando Jesus passou
Chamando discípulos para si.
Se eu estivesse em Betânia naquele dia,
Eu também choraria abraçada aos seus pés.
Enfrentaria a multidão
Para tocar na orla de seus vestidos.
Eu queria tê-lo visto
Pelo menos passar, entrando em Jerusalém,
Sentir o vento em meu rosto
Ao contemplá-lo andando sobre o mar
ou aquietando o mar e o vento,
Curando o cego Bartimeu,
Multiplicando os pães e os peixinhos...
Nem que eu fosse um dos cachorrinhos
Esperando comer das migalhas
Que caíam da mesa de seu dono.
Não importa qual fosse o meu lugar.
Eu só queria vê-lo passar,
Como o vejo agora pelos olhos da fé!


Fonte: 
Poesia: Aos Pés do Mestre,
O crente não escolhe, 
é um escolhido.
Margarete Solange: 
 Queima Bucha,
2011, p. 15

Sou Contigo

poesia de Margarete Solange

Não te apartes de tua boca
O livro de minha lei;
Esforça-te e tem bom ânimo
Conforme eu te mandei.
Para que tenhas o cuidado
De fazer tudo que está dito,
E teu caminho prosperar
Conforme o que está escrito.
Não temas, nem te assombres,
Eu te ajudo, sou contigo.
E o que te irrita e te perturba
Por mim será confundido.
Eu te esforço, te sustento
Te livro dos inimigos e
A nada reduzo
Os que pelejam contigo.
Quando passares pelas águas,
Elas não te afogarão;
E quando entrares no fogo
Te tomarei pela mão.
Desde o ventre te escolhi,
Com misericórdia te adotei;
Guarda no teu coração
As palavras que te dei.
Vou adiante de ti,
Todas as coisas eu faço,
Quebro arco, corto a lança,
Te animo no cansaço.
Revigoro tuas forças,
Transgressões eu desfaço;
Reedifico tuas ruínas,
Desato teus embaraços.
Formo no mar um caminho,
Porei água no deserto,
Aquieta-te e vem,
Sou Deus de longe e de perto.
Encho tua boca de bens,
Renovo tua mocidade;
Da perdição te redimo,
Saro toda enfermidade.
Conheço a tua estrutura
Porque do pó te tirei;
Me invocarás na angustia,
E eu te responderei.
Assim falou o Todo-Poderoso
Para seus servos escolhidos,
Através das escrituras
Reveladas aos seus ungidos.
São promessas que se cumprem
De geração em geração;
Ainda que passem o céu e a terra,
Essas palavras jamais passarão.
A Ele toda honra e toda glória
Porque é soberano, conselheiro,
Digno de adoração e louvores,
O único: fiel e verdadeiro!


Não Temas... Sou contigo
Fotografia de Josy Cruz

Poesia feita com recortes de versículos bíblicos,
especialmente dos proféticos e salmos. 





Fonte 
Margarete Solange, 
O crente não escolhe, 
é um escolhido.
Editora Queima Bucha, 
2011

Uma Voz que Suplicava

                     poesia de Margarete Solange

Numa visão deslumbrante,
Cheia de graça e de luz,
Em meio a uma grande multidão, 
Seguia o divino Jesus.
Sua presença bastava
Para aquietar os corações.
Sua voz irradiava tremores e emoções,
Fazendo tanta gente saltar de alegria,
Reconhecendo no Mestre
Aquele que viria diante dos homens
O Pai representar,
E despido de sua glória,
Morrer em nosso lugar.
Saindo de Jericó,
Seguia o Mestre adiante
Até ouvir a súplica
De uma voz tão distante.
Sentado a beira do caminho,
Por misericórdia implorava...
E quanto mais o repreendiam,
Mais sua fé aumentava.
Cercado por tanta gente
Que o apertava e oprimia,
Ouviu Jesus a voz aflita
Do mendigo que repetia:
“Jesus, filho de Davi,
Jesus, filho de Davi,
Tem misericórdia de mim!”
Fez-se silêncio nesse instante,
Quando o Mestre parou para escutar
A voz do cego Bartimeu, que
Não cessava de clamar:
“Jesus, filho de Davi,
Jesus, filho de Davi...”
Parado ante a multidão,
Via-se a imagem sublime
Daquele, que cheio de compaixão,
Concede aos enfermos, cura;
Aos pecadores, perdão.
Conforme o seu mandar,
Foram buscar o cego,
Que impelido pela fé,
Clamava por misericórdia
A Jesus de Nazaré.
Guiaram Bartimeu
Até onde Jesus estava,
E a turba ansiosa
Atentamente aguardava
Para ver como seria
Esse encontro inusitado.
Seria possível ao cego
Ter seus olhos restaurados?
Num brado, de repente,
O Mestre lhe perguntou:
“Que queres que te faça?”
E movido pela graça,
O mendigo suplicou,
“Abre os meus olhos, Senhor”
E ao toque de Jesus
O que era cego enxergou!
Bem-aventurado aquele
Que pela fé contemplar
Esse quadro tão belo
Esse evento sem par...
Bartimeu, seguindo o Mestre,
Transbordando de alegria,
Pelos campos e valados,
Pasmado com tudo que via:
Pássaros, flores, o céu cheio de nuvens,
Um mundo cheio de cores.
Porém, a mais valiosa beleza,
Que diante de seus olhos reluz
É a imagem sublime
Da Santa Face de Jesus!



Fonte 
Margarete Solange: 
O crente não escolhe, 
é um escolhido.
poesia: Uma Voz que Suplicava 
2010, p.36-37
Editora Queima Bucha,

  

Manto Grisalho

Crônica de  Margarete Solange
Envelhecer não me soa agradável: a velhice é prenúncio da morte. É uma estrada certa, um caminho que não tem volta. Alguns conseguem frustrá-la por bastante tempo, e então se desviam dela pelo caminho, e assim, escondendo-se e esquivando-se, prosseguem; contudo a velhice é a sorte de todos, exceto para aqueles que morrem prematuramente. Para aqueles que conseguem evitá-la ao longo da vida, um dia ela chega e, entrando por qualquer fresta descuidada, gloriosamente se derrama malvada sobre suas cabeças como se tivesse irrompido do nada repentinamente. Nas na realidade, ela esteve sempre por perto, dia a dia se chegando, estreitando o caminho. A vida é um existir inocente que nos leva sempre adiante como se estivemos numa estrada rolante que nos leva ao futuro, mesmo que não façamos qualquer esforço para seguir em frente. A vida nos leva com ela, subindo em direção ao alto, todavia não existe anúncio de nossa chegada ao topo porque não existe um percurso oficial, tampouco linha de chegada. Não existem regras ou normas para sabermos onde nem quando se dá o apogeu, e, por vezes, não percebemos que ele passou e não nos demos conta disso. Descobrimo-nos, então, descendo a ladeira da vida, e essa descida sempre se mostra mais apressada. Ela, a indesejada velhice, do outro lado nos espreita amável. Enquanto não nos abraça completamente, anuncia-se aqui, ali e além, cobrindo com seu manto grisalho os de perto e os de longe, atingindo-nos indiretamente para dizer, num eco adocicado: “Estou aqui” “Estou aqui”. A velhice é grande aliada da morte, caminham juntas, lado a lado, desempenhando funções parecidas, sendo a primeira menos sincera porque disfarça suas intenções. Para provar que reina, toma como reféns nossos avós e, após entregá-los para sua aliada, apodera-se de nossos pais... – Vê quem amamos tão intensamente, envelhecer desassossega nossos corações compassíveis! Esse envelhecer nos leva juntos, como se em sonho estivéssemos mirando o espelho do futuro: ele sussurra que a juventude está fugindo de nós... Muitos preferem não traduzir para si mesmos o balbucio dessa voz.


Fonte 
Margarete Solange: 
O crente não escolhe, 
é um escolhido, 2011, p. 84.
Editora Queima Bucha,
Crônica: Manto Grisalho  



Exalto unicamente a Jesus

Crônica de Margarete Solange

Davi foi um grande guerreiro. Ainda moço enfrentou um urso e um leão; na sua pequenez, derrotou um gigante, venceu batalhas. Salomão foi um grande Sábio, o mais sábio de seu tempo. Pedro e Paulo foram grandes pregadores, exemplos de crentes que sofreram por amor ao evangelho de Cristo. Gandhi também foi um grande homem e ainda muitos outros líderes políticos e religiosos, cantores e ministros do evangelho que têm a admiração de muitos. Todavia, eu exalto unicamente a Jesus, porque nenhum deles falou como Jesus, amou e perdoou como Jesus. Adoro unicamente aquele que aquietou o mar e vento, que se deixou tocar por uma pobre mulher... Porque, quando nEle tocamos, estremece em nós o Espírito de Deus, o nosso espírito salta de prazer e sentimos na alma que Ele é ÚNICO, o verdadeiro enviado de Deus para ser honrado, adorado e aclamado como único mediador entre Deus e os homens. Eu clamo unicamente a Jesus porque sua presença traz alento, porque Ele é o Santo para todas as causas, porque sua verdade não muda: Ele é a verdade, Ele é o caminho... Por isso, o homem, mesmo sendo santo, mesmo sendo grande ou até gigante talvez, nada é sem Ele. A verdadeira sabedoria do homem consiste em reconhecer isto: a sua pequenez e a grandeza do filho de Deus. Diante do Mestre, na sua simplicidade de homem rude, Pedro, pescador sem letras, com o coração contrito, disse algo que para mim excede qualquer sabedoria, seja a de Salomão ou de qualquer outro sábio pensador: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.




Margarete Solange: 
O crente não escolhe, 
é um escolhido, 2011, p. 75.
Editora Queima Bucha,
Crônica: Exalto unicamente a Jesus

A difícil arte de ser compreendido

Crônica de Margarete Solange 
Desde pequena, eu queria agradar. Queria ser uma boa filha, boa aluna, melhor amiga de alguém. Esforçava-me para tirar boas notas e passar sempre nos exame para o qual eu fosse submetida. Quando somos crianças e adolescentes, agradar pessoas e passar em exames é bem mais fácil porque os critérios de avaliação obedecem uma lógica que poucos ousam violar, melhor dizendo, nessa fase da vida, ser aprovado depende de nós, de nosso esforço e dedicação. Não faltam elogios aos nossos feitos; então, ficamos acostumados a ser louvados e achamos que somos capazes de conquistar tudo aquilo que queremos. Pensamos que podemos tudo. Quando crescemos, somente pela fé podemos tudo! Um mundo novo surge diante de nós nos misturando a estranhos, e a sobrevivência torna-se mais complicada; algumas vezes, nossos sonhos são castrados. Então, alguns de nós se tornam bichinhos acuados que atacam para se defender. Por causa das injustiças dos homens alguns perdem a fé. Estou tentando aprender com tudo isso. Tenho reações diferentes ante as minhas decepções. Quando crianças, se somos quietinhos, “bem comportados”, agradamos, mas como adultos, se continuarmos tentando agradar a todos, sentimo-nos confusos e frustrados porque isso é tarefa impossível. As pessoas querem nos moldar conforme o seu querer e suas necessidades. Não conseguimos ser tão elásticos assim. Não faz bem para nós mesmos desejarmos ser demasiadamente simpáticos, mesmo porque nunca acham que somos e passam a dar às nossas falhas um peso bem maior que aquele atribuído às nossas virtudes. Por vezes, aquilo que é qualidade e agrada a uns é detestável para outros, uns nos admiram; outros, talvez por inveja, não sei, antipatizam-nos. Atraímos amigos e inimigos, mesmo quando não temos intenção de fazer nem uma coisa nem outra. Estou na metade de minha vida e ainda sinto-me um tanto quanto leiga na arte de entender as pessoas; além disso, sinto-me, não poucas vezes, bastante incompreendida. Todavia, creio que num ponto, tenho um pensamento acabado: todos, sem exceção, temos nossas particularidades: umas, que são dignas de elogios, e outras, consideradas chatices de algum modo. Isso, a meu ver, serve para qualquer tipo de temperamento, seja para os tímidos: tranquilos e inofensivos, seja para os brincalhões: espalhafatosos de otimismo contagiante ou mesmo aqueles que se acham autossuficientes: determinados, autoritários, julgam-se exemplos para os demais; serve também para os melancólicos, que, muitas vezes, são donos de grandes talentos, mas possuidores de temperamento delicado, que costuma variar de um extremo a outro. Li muito, observei muito, desapontei e fui desapontada para poder compreender que as coisas não são como queremos que sejam; é por isso que fazemos acepção de pessoas no momento de afunilarmos as nossas amizades. Agora, que compreendo isso, já não quero me obrigar a mudar para ser como “todo mundo é” ou fazer algo porque “todo mundo faz”, prefiro que respeitem mais as minhas particularidades, meus limites, porque, muitas vezes, quando as pessoas nos propõem mudanças, apresentam-se como modelos a serem seguidos, quando sabemos que diferenças individuais existem e são necessárias. Não temos que mudar nosso temperamento, embora acredite que devemos mudar algumas de nossas atitudes, especialmente quando elas trazem prejuízo na convivência. Não é sempre que acredito nas pessoas, mas minha fé em Deus me ajuda a conviver bem com elas. Hoje, já não ando mais à procura do amigo ideal, leal, embora sei que na velhice vou olhar para trás e ver que encontrei no curso de minha vida alguém que mereceu esse título, alguém que soube reconhecer as minhas virtudes e que me compreendeu, apesar dos defeitos. 


Fonte 
Margarete Solange: 
O crente não escolhe, 
é um escolhido, 2011, p. 104-105
Editora Queima Bucha, 

Crônica: A difícil arte de ser 
compreendido.  

Seja bom naquilo que Faz

Crônica de Margarete Solange
Deus quer que o homem procure ser bom em tudo que ele faz. É bíblico: “E tudo quanto fizerdes, fazei-o de coração, como ao Senhor, e não aos homens”.  Podemos ser pessoas simples, humildes, mas simplicidade e humildade não são sinônimos de pequenez e fraqueza. É preciso determinação. É louvável que o ser humano tenha objetivos, propósitos na vida. Que se dedique a fazer com zelo e disciplina o projeto para o qual foi direcionado. Para ser grande, não é necessário ao homem que ele se envolva em muitas ocupações. É importante que procure está ocupado no seu dia a dia, despenhando atividades que lhe tragam bons frutos que, de uma forma ou de outra, edifiquem pessoas em seu derredor. Mesmo que exerça uma única atividade e ela pareça simples ou banal, deve fazê-la com diligência. É apreciável que o ser humano seja louvado por ser bom naquilo que ele faz. Especialmente nas pequenas coisas. Visto que, nas pequenas coisas, o homem mostra sua nobreza. Contanto que o seu esforço não seja para ostentar grandeza nem estabelecer superioridade sobre os demais, e sim para sentir no íntimo o refrigério de ter a consciência do dever cumprido. Não cumprido de qualquer forma, mas com prazer e eficácia. É gratificante ser bom em alguma coisa, mesmo em atividades nas quais muitos não reconhecem como dignas de honras e louvores, como por exemplo, ser dono ou dona de casa, cuidar do próprio cachorro, pomar ou jardim, fazer as atividades escolares e outras tarefas desse tipo. É certo que existem prêmios, para atores, atrizes e diretores, honras e méritos para generais e presidentes, todavia, para as pessoas que nos cercam, os grandes vultos somos nós. Assim sendo, por que não dar sempre o melhor de nós para essa nossa pequena e preciosa plateia?  


Fonte 
Margarete Solange: 
O crente não escolhe, 
é um escolhido, 2011, p . 76
Editora Queima Bucha, 
Crônica: Seja bom naquilo você Faz  

Precioso Tempo

Faz tanto tempo que não escrevo. Não escrevo porque me falta tempo. Tanto se criticam os desocupados, e eu hoje quase os admiro. Quem dera meu tempo fosse livre para eu ficar desocupada e poder fazer tanta coisa de que gosto. Ler, por exemplo. Chego a imaginar que estou desaprendendo a ler por prazer, porque não tenho tempo. Preciso ler folhas e mais folhas de trabalhos científicos, monografias de conclusão de curso, referências a autores ou mesmo plágio (Se não existisse o plágio muitos jamais se formariam). Alguém poderia me criticar dizendo: o ser humano nunca está satisfeito. Agora que está no emprego que sempre almejou, reclama. Reclamo! Reclamar é sinal de que estamos vivos! Contudo, estou bem satisfeita, ganhando o meu precioso salário e dele faço muito bom proveito, por vezes até compro sonhos. Tão somente queria ter mais tempo para trabalhar em áreas que me trouxessem mais contentamento e realização. Passo pelas ruas, observo as pessoas que, no final da tarde, sentam-se, com o cabelo molhado e uma roupa leve, em cadeira de balanço em suas calçadas. Sempre achei que sentar em calçada não combina com o meu jeito de ser, mas por esses dias, meses e anos, sentar para conversar seria para mim um luxo, um refrigério. Todavia, ainda assim, se me sobrasse tempo, armaria uma rede na varada e buscaria a companhia de um bom livro para ler. Queria tão somente me apossar do meu próprio tempo para empregar naquilo que bem quisesse. Quem dera até pudesse acompanhar dia a dia um programa de TV, quem dera! Já que, assiste à TV quem tem tempo para desperdiçar. Quem dera não precisasse reclamar que me falta tempo para ler e escrever sobre aquilo que realmente me interessa. Ler e escrever... Não necessariamente o dia todo, mas todos os dias, sem nada ganhar ou perder, apenas para satisfazer minha necessidade de ser livre, empregando meu tempo naquilo que verdadeiramente me faz feliz.


Fonte 
Margarete Solange: 
O crente não escolhe, 
é um escolhido, 2011, p . 110 
Editora Queima Bucha, 
Crônica: Precioso Tempo